segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Sobre chuva e deixar-se molhar

Há tempos eu não tomava um banho de chuva como hoje...daquelas chuvas "feias", que parece que o céu vai desabar de tanta água que caía...
Claro, no começo eu fiquei um tanto quanto receosa, meio emburrada pelo meu estado 97% molhada, mas tão logo cheguei aos 100% de "molhadez", cheguei também ao êxtase de lavar a alma, de deixar a vaidade de lado e me entregar às gotas que caíam...
De deixar de pensar em como eu gostaria de estar em casa e não esperando um ônibus demorado pra chegar até lá... deixei de pensar um pouco nos problemas, nos mil e um trabalhos que eu tenho que entregar, nas milhares de pendências que deixamos pender por falta de tempo e paciência...
por minutos, parei.
parei de pensar, de fazer, de viver.
entrei em um estado de entrega. um estado em que só a chuva me bastava...
cada pingo parecia ser sensível ao tocar minha pele, parecia que cada gota era como um remédio, ou senão, uma cura permanente para os desatinos do coração.
a cabeça já não funcionava racionalmente. tirei as sandálias e comecei a me divertir com o pé n'água.
Sorria, cantarolava, o frio e a ventania eram acompanhados pelo meu sorriso.
Naquele ínterim eu fui eu pra mim mesma, a maquiagem de certo borrara, o charme do vestido longo já havia se perdido e o cabelo de fato derretera...
mas a minha vaidade deixou espaço pra alma se mostrar, tão original e simples quanto é...
não precisava de nada, só do tempo. só de mim.
e os minutos transcorreram, lentos e simples.
iluminados por cada trovão no céu,
até que o ônibis chegou e a vida seguiu, os problemas voltaram, a vaidade também.
pedi pra que a viagem fosse o mais breve possível...e talvez pela distração, de fato foi.
do ponto em que desço até a minha casa é um quarteirão e nesse último contato com a chuva, o mais surpreendente da noite...
segurando a barra do vestido numa mão, as sandálias e a bolsa em outra, corri.
corri para casa,
corri para dentro de mim,
carregando na cara um largo sorriso,
de satisfação, de alegria,
de paz interior. um sorriso tão espontâneo que até mesmo eu,
se observasse a cena iria me admirar.
um sorriso que guardo para mostrar de novo... tão breve possível.

A chuva sempre caí,
a necessidade de se molhar, não.